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O inimigo trabalha ao lado

inimigo profisionalNunca imaginei que quatro horas de espera no aeroporto pudessem jogar a meu favor. Para fugir da irritação, enquanto aguardava a tão esperada chamada para o embarque que me levaria de volta a São Paulo, depois de uma viagem de negócios, achei melhor relaxar e tomar um café. No balcão, vários executivos na mesma situação, ou seja, esperando uma decolagem ainda sem previsão.

A conversa de dois deles me fez esquecer o caos aéreo e me levou a refletir sobre estratégias de conquista ou a manutenção do poder no mundo corporativo:
– “Amanhã, será o dia de apresentarmos a todos da diretoria nosso relatório sobre o que constatamos aqui na filial. As sucessivas falhas cometidas poderiam causar grande prejuízo. Deverá ficar claro que a competência da nossa equipe evitou o pior. Eles devem isso a nossa área. Precisamos reforçar a importância da nossa ação”, disse um deles.

O outro logo confirmou: -“É claro! Precisamos capitalizar o problema a nosso favor. E mais: ninguém deve saber de nada antes da apresentação. Temos que surpreender. Assim, finalmente, colocamos o nosso homem na gerência da filial daqui”.

E a conversa, em tom claramente conspiratório, prosseguiu até, enfim, o alto-falante anunciar nossos portões de embarque, o meu e o deles.

No avião, mais espera e um livro que reúne os aforismos mais marcantes dos últimos tempos, comprado durante os “passeios” no saguão do aeroporto. Assim, já sentado em minha poltrona, abri o livro e surpreendi-me com a coincidência. Uma das citações vinha ao encontro do tema que ocupava minha cabeça desde o balcão do café: “Um homem não é infeliz porque tem ambições, mas porque elas o devoram”, de Montesquieu. É isto, pensei Alguns executivos estão sendo levados pela ambição que destrói e não por aquela que os impulsiona para o sucesso. Trata-se de um comportamento profissional contaminado por um novo fenômeno: a gestão da ambição.

Apesar de tantos investimentos para alcançarmos a competência, vivemos e perdemos com o crescente avanço da ambição. A principal consequência? A inversão do campo da batalha. A competição saudável de mercado, que nos obriga ao aperfeiçoamento diário para suplantarmos metas, em algumas empresas foi substituída pela guerrilha interna.

E na origem dessa prática, que corrói o poder de competitividade das empresas, estão os alpinistas de organograma. Eles são líderes de guetos, facções e células. Lideram, isolam e exigem fidelidade dos adeptos. E qual a vantagem de ser fiel a um grupo? A sensação de segurança e proteção. A “quase certeza” de ficar fora de eventual relação dos excluídos, ou seja, assegurar o emprego. Assim, numa geração que fez do livro “Arte da Guerra”, leitura obrigatória para o sucesso na carreira de um executivo, muitos profissionais deixam em segundo plano a empresa e despendem, obstinadamente, tempo e competência somente em benefício próprio. Não sabem a primeira lição: identificar o “inimigo”. Enfim, aqueles que se sobressaem, por parecerem ousados e surpreenderem toda a empresa com ideias e planos construídos quase sempre em quatro paredes, longe dos “inimigos” das salas ao lado.

E os interesses e metas da empresa? E os objetivos comuns e compartilhados por todas as áreas e por todos os executivos?

Esse modelo, apesar do maniqueísmo, de alguma forma, está sendo reproduzido pela mídia. Basta assistir apenas a um capítulo da novela de maior audiência – não importa o título -, transmitida pela principal emissora de televisão. Ela sempre retrata o profissional dominado pela filosofia do poder. A vitória é de quem agrada mais, possui o poder da oratória, tem público e mostra garra para conquistas individuais. E, claro, faz o jogo político da confraria que, no momento, tem a força.

Na vida real, quantos executivos deixam que suas ambições pessoais devorem diariamente as empresas, sem que a alta direção se dê conta disto? Sem modismos, os ensinamentos de estratégias de combate e táticas do livro “Arte da Guerra” podem ser úteis, desde que levados a sério. Observe se na sua empresa são seguidos os ensinamentos básicos do estrategista militar para a conquista de metas. Eles são simples: ação conjunta e conhecimento do ambiente de ação e do obstáculo a ser vencido. Não é por acaso que os conceitos do chinês Sun Tzu sobrevivem há 2.500 anos. Ele sabia quem era o “inimigo”.

Até a próxima Carta do Mês!

Denis Mello

Diretor-presidente