Caro leitor,
Durante uma caminhada de fim de semana, um amigo contou-me a definição dele sobre a vulnerabilidade do ser humano à má notícia. Ele acredita que a maioria das pessoas sofre de “síndrome da tragédia anunciada”.
Para explicar a teoria, desenvolvida a partir da “filosofia da observação”, ele citou dois exemplos: “Veja bem: experimente gritar ‘fogo’. Dependendo do lugar, o espanto inicial pode ser substituído por pânico e correria, mesmo que não haja o mínimo sinal de fumaça ou sensação de calor, nada que indique o risco de um incêndio”.
“Outro sintoma: observe como a má notícia dá mais audiência do que a boa. É mais fácil encontrar alguém reclamando de um insucesso do que celebrando uma vitória”.
A partir destes simples exemplos, começamos a fazer um paralelo com o mundo corporativo. Como a “síndrome da tragédia anunciada” contamina as empresas? “É só o jornal trazer como manchete que o dólar subiu e a Bolsa de Valores caiu.” O tal do “mercado nervoso” como definiu meu amigo, que vive longe do universo empresarial.
Conclusão simplista de quem não é obrigado a conviver com as oscilações da economia nacional e mundial? Nem tanto. Basta observar a reação de alguns executivos diante da crise financeira da primeira década do século XXI e concluímos que não é difícil o espanto dar lugar à “gestão do susto”.
“Gestão do susto?”, perguntou meu amigo. “Isto mesmo. Acredito que sua teoria da ‘síndrome da tragédia anunciada’, em algumas empresas, se expressa por meio da ‘gestão do susto’”, respondi. Nossa conversa continuou e tentei explicar que tudo, geralmente, começa na mídia. “Mas como administrar uma empresa sem as informações da mídia?” – questionou. “De maneira alguma deve ser dispensada. Entretanto, acredito que não devemos, simplesmente, engolir as notícias. Muitas vezes, o fato não tem a dimensão que se alardeia. As informações devem ser filtradas, ponderadas, analisadas. “Avaliações superficiais e emotivas não podem traçar o caminho dos negócios” – respondi.
Depois dessa breve troca de ideias, fui para casa pensando na relação entre a informação e o mundo dos negócios. Comecei minha reflexão, lembrando do que ouvi de uma experiente jornalista econômica. Segundo ela, as análises divulgadas não podem ser aceitas como verdades indiscutíveis, pois muitas previsões passam longe da realidade em diferentes momentos da economia. Ou seja, até os profissionais da mídia reconhecem que há especulações, previsões sem argumentos, o que é natural e inevitável.
Como dizia o escritor Mark Twain: “Primeiro reúna seus fatos e, em seguida, pode distorcê-los à vontade.” A citação pode traduzir um dos fenômenos atuais que favorecem a desinformação: o excesso de informação. Um momento histórico que oferece recursos para todos opinarem, principalmente, por intermédio da internet, também traz o lado negativo: a queda de qualidade e os fabricantes de falsas informações.
Como prevenir os possíveis efeitos da contrainformação, para que eles não contaminem a empresa e transformem a “gestão do susto” em epidemia? Acredito que o primeiro passo seja evitar o impulso, a comoção. O melhor a fazer é avaliar as informações de maneira sensata e racional. Não dar lugar a conclusões precipitadas, sem argumentos concretos. Não dar ouvidos aos papagaios que se põem a falar, quando as águias se calam, como dizia Winston Churchill. Lembre-se do planejamento estratégico, baseado em meses de estudos e pesquisas, e das metas estabelecidas para médio e longo prazos.
Quando a emoção e o imediatismo orientam as decisões, digo que a estratégia entra no processo sanfona: encolhe ou não, de acordo com as marés da informação.
Na manhã de segunda-feira, depois do domingo no Parque do Ibirapuera, quando abri o jornal digital, a manchete econômica alarmante provocou meu primeiro questionamento do dia: Quantas empresas estão preparadas para dissociar a comoção dos negócios e evitar que os executivos saiam pelas reuniões gritando fogo, sem ao menos checar se há fumaça?
Que tal um exercício? Ao ler ou ouvir as primeiras notícias do dia, pergunte-se: Minha empresa está imune à “gestão do susto”?
Vale a pena conferir!
Até a carta de junho.
Denis Mello
Diretor Presidente
FBDE|NEXION Consulting
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