Segunda-feira, voo atrasado, livraria do aeroporto: leitura rápida de algumas “orelhas” de conhecidos best-sellers voltados para a orientação da carreira de executivos, principalmente, da nova geração, que logo mais estará à frente das nossas empresas.
Entre fórmulas e receitas, alguns atributos essenciais, de acordo com os autores, para os jovens candidatos que pretendem galgar os difíceis degraus do organograma corporativo e, enfim, alcançar o topo da carreira, se possível, antes dos 40 anos: ser empreendedor, líder, criativo, ousado, dotado de bom humor, forte networking, ter ótima aparência, saber verbalizar e possuir conhecimento técnico.
Penso na inconsistência e artificialidade dessas receitas-placebo. Será que não estão se esquecendo do principal, ou seja, da necessidade de uma boa formação cultural e de uma consistente bagagem de conhecimentos gerais, aprendidos e apreendidos na observação dos fatos, relacionamentos, bancos escolares e livros?
Vale lembrar um episódio que expôs, em rede nacional, uma amostra do perfil do que poderá ser a nova geração de executivos seguidores dessas receitas. Falo do programa de tevê “O Aprendiz”, de alguns anos atrás. Os participantes, rigidamente selecionados entre milhares de candidatos, foram incapazes de responder, entre outras perguntas, o nome do governador do Rio de Janeiro, a cidade na qual nascem os soteropolitanos e, muito menos, os estados brasileiros que fazem fronteira com a Venezuela.
Justificativas para o desconhecimento? Veja algumas respostas: “Para ser seu sócio não há necessidade desse tipo de conhecimento” ou “excesso de criatividade”. Trata-se de uma superficialidade do ensino e da formação profissional que me remete a um antigo provérbio: “de nada adianta o vento estar a favor, se não se sabe pra onde virar o leme”.
Isto porque, sem conhecimento, estreita-se o conteúdo da reflexão e, sem reflexão, até podemos saber para onde sopram as oportunidades, mas, certamente, estaremos longe de saber a melhor direção a tomar. Ao refletirmos sobre qualquer tema técnico e específico, obrigatoriamente, recorremos à nossa bagagem de conhecimento.
Francis Bacon é mais atual que nunca. O filósofo inglês dizia que “o conhecimento é em si mesmo um poder”, definição que se encaixa perfeitamente no século XXI. Basta nos voltarmos para as necessidades do mercado.
Há uma busca constante por executivos de perfil estratégico – profissionais que aliem a formação técnica à humanista – mas sem conhecimento histórico, geográfico, político e cultural só restará ao “estrategista” repetir regras e caminhos já trilhados, ou seja, deixar de lado a sonhada inovação e criatividade.
Estou certo de que o conhecimento nunca teve tanto poder e influência no mundo dos negócios, todavia, acredito que esta base está fora do mundo corporativo. Está na literatura, cinema, teatro, museus e no jornal de cada dia. Cada vez mais, os processos de seleção e de promoção dos executivos estarão focados na formação e crescimento pessoal. As empresas não “compram” mais cursos de MBA nem mesmo no exterior. Elas querem e procuram profissionais cultos e bem informados, que saibam refletir e se comunicar.
De repetitivos e autômatos já bastam os softwares e computadores. As mudanças estão chegando e as empresas dando saltos de qualidade e exigindo, além de todos os requisitos necessários, os principais: a valorização do conhecimento acumulado e a qualidade da reflexão, do saber escrever.
Portanto, é fundamental acompanhar os tempos e dar esse salto de qualidade, introduzindo na empresa e na própria vida profissional a valorização do conhecimento.
Pense nisso e até a carta do próximo mês.
Denis Mello
Diretor-presidente