FBDE Consultoria Empresarial

As próteses do nosso pensamento

Caro leitor,

Carta do Mês - As próteses do nosso pensamento

Dias atrás, assisti à seguinte cena: um executivo de empresa, numa mesa de restaurante ao lado da minha, entre garfadas e goles de Coca-Cola, escreve freneticamente mensagens em seu tablet, quando seu celular vibra. Ele atende: “A planilha acabou de entrar no meu e-mail, vou completar as informações que chegaram há minutos da matriz.” Depois de desligar, volta ao tablet, engole parte de sua salada, mais um gole de refrigerante, volta a trabalhar com os olhos fixos na tela e o celular vibra novamente sobre a mesa.

Este fato, tão comum nos dias de hoje, seria cômico, se não fosse trágico, como diria o escritor Flávio Rangel. Isto porque o comportamento desse profissional exemplifica o que vivemos atualmente: estamos reféns de nossas “próteses”. O notebook, o celular, o tablet, toda a parafernália eletrônica faz parte de nós, de nossos corpos e mentes. E o que é pior: substitui nossos pensamentos.

Exagero? Acredito que não. Comecemos por nos perguntar: quais os momentos em que desligamos o celular e o computador, deixamos de olhar para a tela e ficamos apenas com nosso corpo, sem aparelhos? Enfim, quando ficamos conectados apenas a nós mesmos e às nossas reflexões? Ao responder estas questões, constato que hoje o que nos falta é pausa, “dar um tempo” aos nossos neurônios sobrecarregados de informações.

Esquecemo-nos de que a genialidade humana criou a máquina para a nossa comodidade, para trabalharmos menos e ganharmos tempo livre, que seria dedicado a nós, à família e aos amigos. Entretanto, a pretensa liberdade virou prisão. Muitas vezes, de forma inconsciente, não nos separamos dos aparelhos porque precisamos estar conectados, consumindo informações e constantemente “vigiados” por quem está no espaço virtual cobrando participação nas redes sociais.

Hoje, somos seres curiosos. Esquecemo-nos também de que o conhecimento deve ser construído, elaborado a partir de informações contextualizadas e não do consumo de fragmentos que não se integram. Ao ansiarmos pelo “tudo”, somos mais ou menos em “tudo” e bom em “nada”. Isto porque seguimos uma lógica na qual falta abstração e reflexão. Estamos delegando essas faculdades exclusivamente humanas às nossas “próteses”.

Fomos “abduzidos” pelo gigabyte e pela velocidade dos sistemas. Somos mais rápidos para tomar decisões e agir, mas perdemos conteúdo, profundidade. Talvez, isto explique a dificuldade de empresas e executivos pensarem estrategicamente. Não há tempo para refletir, planejar em médio e longo prazos.

Nessa cultura do imediatismo, fazemos o mesmo do mesmo. Seguimos na contramão da era da inovação. Permanecemos com as mesmas ideias, apenas com roupagens diferentes, pois as mudanças qualitativas exigem que fujamos da repetição.

Então, sugiro desligarmos todos os nossos “brinquedos” de adultos por alguns instantes e pensarmos como eles podem nos servir para potencializarmos nossa capacidade humana de reflexão e criatividade. Freud, o pai da psicanálise, já nos ensinava que o “o pensamento é o ensaio da ação”.

Pare e pense!

Até a carta de maio!

Denis Mello

Diretor Presidente
FBDE|NEXION Consulting