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O preço do excesso de telas entre as crianças

Caro leitor,

criança usando tecnologia sem supervisão

Recentemente, fui convidado para a inauguração de uma clínica psiquiátrica infantil próxima à nossa região. O evento prometia ser uma celebração, um marco de esperança para famílias em busca de ajuda para seus filhos.

Em meio às conversas e trocas de experiências com os médicos fundadores do espaço, cerca de dez, algo me chamou profundamente a atenção: o perfil dos pacientes que ali buscavam tratamento. Surpreendentemente, muitos desses pequenos sofriam dos males advindos do uso excessivo do celular.

Sim, você leu corretamente. O uso desenfreado de dispositivos eletrônicos se tornou um problema de saúde mental, afetando não apenas adultos, mas também crianças, tirando-lhes preciosos momentos de desenvolvimento e criatividade.

Afinal, o tempo que antigamente era dedicado à abstração e à criação de brincadeiras, hoje é consumido pelas telas luminosas de celulares, meticulosamente projetados para capturar os indivíduos e isolá-los do “mundo real”.

Durante a conversa com os médicos, ficou claro como o acesso ilimitado à tecnologia tem impactado negativamente a vida de tantas crianças. É possível identificar altos índices de ansiedade, dificuldades para resolver problemas e até mesmo pouco interesse em socializar por parte dos pequenos.

E a quem poderíamos culpar?

Com a vida profissional ocupada, os pais muitas vezes se veem sem recursos ou tempo para uma supervisão eficaz. O resultado disso não poderia ser pior. 

As crianças são entregues aos dispositivos eletrônicos cada vez mais cedo, sem qualquer tipo de impedimento, enquanto o número de acesso desse público à internet já ultrapassa a marca de 85%*.

E o que dizer do impacto desse vício nas empresas?

Além da crescente dependência visualizada em nossas vidas pessoais, principalmente entre filhos, netos e sobrinhos, não podemos ignorar como essa mesma tendência se manifesta no ambiente corporativo.

Ao invés de aproveitarmos pausas para estimular nossa mente ou colaborar com colegas em atividades construtivas, estamos cada vez mais presos às notificações incessantes e ao vício da hiperconectividade.

Se antes as reuniões eram espaços para bate-papo, trocas de ideias e relações genuínas, atualmente, muitas delas se transformaram em meras formalidades, com participantes predominantemente focados em seus celulares, ansiosos por uma ligação ou outra distração digital.

Como consequência, viramos parte de uma sociedade superficial, na qual as conexões reais são frequentemente substituídas por uma quantidade exorbitante de likes e emojis, deixando um vazio de autenticidade e profundidade nas interações humanas.

E com os jovens, recém-ingressados no mercado de trabalho, esse cenário não poderia ser ainda mais desafiador. Muitos deles que, de início, parecem promissores, enfrentam crises de abstinência e dificuldades de comunicação e concentração devido ao vício no celular. Uma situação preocupante, mas infelizmente não isolada.

O mundo está em constante mudança, e a tecnologia desempenha um papel fundamental nessa transformação. Mas é importante lembrar que precisamos encontrar um equilíbrio saudável entre o mundo digital e o mundo real

É necessário resgatar o tempo para conversas significativas, para o desenvolvimento de ideias e para o verdadeiro crescimento pessoal e profissional. Será que estamos dispostos a isso?

 

*Dado extraído da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua sobre Tecnologia da Informação e Comunicação – Pnad/TIC

Denis Mello

Diretor Presidente
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