O Brasil é um dos poucos países do mundo que possuem alto know-how em crises. Relembrando apenas algumas das que vivemos, podemos citar a do petróleo, o colapso do Plano Cruzado, o confisco do governo Collor e a atual e prolongada crise, que parece estar chegando ao fim. Somos empresários e executivos sobreviventes de anos de turbulências econômicas e incertezas políticas ou, melhor, mais que sobreviventes.
Na realidade, transformamos as crises em novos caminhos. Acredito que a crise assume maior dimensão quando começamos a entrar em crise, quando passamos de receptores a transmissores de notícias ruins. Aí, o processo torna-se endêmico, irrefreável.
Deparamo-nos com atitudes reducionistas, nas quais a prioridade é a higienização indiscriminada de custos e investimentos. Passa-se a agir emocionalmente, de forma pouco racional e imediatista, deixando de lado a verdade histórica de que é justamente nos momentos difíceis que muitas empresas “criam musculatura” e ganham força.
Essas atitudes refletem um estado de pânico gerado pela “tragédia anunciada”, que inibe o processo de inteligência das empresas e aponta a imaturidade de lideranças para o enfrentamento de situações adversas.
As pessoas agem por impulso. De acordo com o “humor” da bolsa ou da oscilação do dólar, projetos factíveis são cancelados ou postergados e o planejamento formal da empresa acaba sendo engavetado.
A crise assume a paternidade do imobilismo, do afrouxamento, das justificativas do que não foi alcançado e de todas as curvas descendentes dos gráficos de resultados. Assim como as atuais adversidades estão gerando uma nova ordem econômica mundial, acredito que o universo empresarial está sendo reinventado.
Vivemos um grande laboratório, um simulador que irá depurar as corporações e líderes realmente preparados para viver o novo mundo de relações econômicas deste século.
Certamente, vencerão aqueles que mostrarem a melhor prática de gestão em momentos de turbulência e souberem dimensionar crises e aproveitar lições e oportunidades deixadas pelos menos preparados.
Portanto, o caminho está em descontaminar salas e corredores, isolando os “amplificadores da crise”; prestigiar quem traz soluções; investir em áreas capazes de gerar negócios; e identificar concorrentes retraídos e emocionalmente envolvidos, para ocupar os espaços deixados por eles.
Enfim, o caminho é inverter a rota, virar o jogo, anular o discurso negativo e estar atento às novas oportunidades.
Vale lembrar o sábio ensinamento de Horácio para quem “a adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”.
Pense nisso e até a próxima carta do mês,
Denis Mello
Diretor-presidente