Bem-sucedido, em um curto espaço de tempo, viu a expansão dos negócios vinda na esteira de longa e exaustiva jornada de trabalho, conta bancária polpuda e várias propriedades (algumas com cômodos que nunca pisou). Ganhou o prêmio “Empresário do Ano” de uma entidade de classe. Parodiando Barack Obama – já que falamos em sucesso – ele é o cara!
A conversa sai do campo dos negócios, vai para as amenidades e – um pouco mais confortável – falamos sobre a vida pessoal. Para variar, falo sobre meus netos e sobre as últimas estripulias que tanto alegram a família. Percebo uma mudança na expressão dele, um vinco na testa e um longo suspiro. Com a voz embargada, diz que a família se esfacelou enquanto construía um império. Separou-se, mal vê os filhos e brigou com os irmãos que insistiam ocupar lugar de destaque em uma de suas empresas. Enfim, ele é o cara… triste e solitário.
Uma pergunta volta à minha mente: O que é sucesso profissional? Respostas clichês logo aparecem: “dinheiro não traz felicidade” ou “o topo é um lugar solitário”. Mas estas frases de almanaque, que povoam o imaginário coletivo, não se adequam ao executivo que está á minha frente, ou ao homem moderno.
Vivemos em uma sociedade altamente competitiva, onde crianças já leem aos três anos e têm uma agenda tão atribulada quanto a minha (inglês, balé, judô, natação, música… ufa!). Na adolescência, fazem intercâmbio e são pressionados a entrar em faculdades de primeira linha. Por quê? Cursar em uma instituição renomada seguiria a trajetória iniciada na infância rumo ao sucesso profissional. Repare que este caminho tem apenas uma linha, a que traça a profissão.
Não há trilhas para a vida pessoal – família e amigos. Se existem, são tão leves que não as enxergamos. Se perguntarmos a um jovem universitário o que espera da vida, fatalmente responderá: “Felicidade”. Todavia, qual felicidade ele objetiva e como pretende alcançá-la. Um dos homens mais ricos do mundo, o megainvestidor Warren Buffet diz que “O objetivo da vida é ser amado pelo maior número de pessoas possível entre aquelas que você deseja que amem você”.
Céticos dirão que é fácil falar de amor quando se é bilionário. Mas não é essa tal felicidade que faz tanta falta ao empresário que abriu esta carta e que só se deu conta ao atingir o topo? Buffet, por exemplo, mora na mesma casa desde 1958, não tem celular, computador na mesa e dirige o próprio Cadillac DTS. Penso que seria, talvez, uma estratégia dele para preservar a família e assim estabelecer um equilíbrio entre o pessoal e o profissional. Se o fez de caso pensado não sei, pois não sou amigo ou confidente de Buffet, mas ele nos dá uma boa pista.
Não estou aqui defendendo a aposentadoria de celulares e computadores, ou o menosprezo à carreira. É legítimo almejar o crescimento, bons postos e salários, o reconhecimento profissional e todas as justas e merecidas benesses advindas de muito estudo e trabalho. No entanto, os profissionais deveriam aprender também a fazer um planejamento estratégico da vida pessoal – está aí uma boa disciplina para as universidades – criar um projeto de vida que corra paralelo à carreira, que agregue familiares e amigos.
De forma bem pragmática, um profissional que apresente tal harmonia é mais produtivo, se integra ao grupo com maior facilidade e, dificilmente, ficará afastado por causa das doenças modernas (depressão, síndrome do pânico ou outros distúrbios). Faço aqui uma reflexão porque somos treinados e preparados para alcançar a “felicidade” profissional, a qual, muitas vezes, está dissociada ou se sobrepõe à pessoal. Somos um ser único, com múltiplas necessidades e habilidades.
Como sentenciou há muito tempo o matemático Blaise Pascal “O homem é um ponto entre duas extremidades”. Agora ouso responder à pergunta que intitula este artigo: o equilíbrio é a chave do sucesso!
Até a próxima Carta do Mês!
Denis Mello
Diretor-presidente