Por conta da atividade de consultor, tenho a oportunidade de manter contato frequente com jovens executivos, em sua maioria, recém-formados, cuja carência acadêmica aponta para uma constatação recorrente: o distanciamento da realidade do mercado no qual atuam.
A despeito de inteligência, boa formação teórica e disposição em aprender e apreender novos conhecimentos, a maior parte desses jovens chega ao mercado de trabalho incapaz de dominar práticas inerentes à área para a qual foram “formados”. Isto por que o modelo do Ensino Superior brasileiro é a antítese do conceito aristotélico de que “é fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”.
A formação universitária, ao privilegiar a visão teórica acadêmica, afasta-se da dinâmica de um mercado que muda a cada dia. Essa carência leva-nos à distorção da posição social dos universitários e das empresas. Em virtude das falhas na educação superior, os estudantes surgem como grandes vítimas dos equívocos acadêmicos, enquanto as corporações são obrigadas a atuar como formadoras e não como complementadoras de mão de obra especializada.
Após anos de alto investimento financeiro, os ex-universitários ainda trazem na bagagem profissional conhecimentos técnicos superficiais, que não condizem com a realidade do dia a dia do mundo corporativo. Acredito que o debate de tal deformação deva nos levar à aplicação de propostas capazes de combater o forte descompasso que há entre universidades e empresas, ou seja, auxiliar na desconstrução do atual hermetismo do ensino pelo ensino que muitas universidades optam por uma “linha de produção”, como forma de oferecer um padrão de formação, que, supostamente, atenda às necessidades dos “alunos-clientes”.
Em minha opinião, a base de uma boa formação de executivos e empreendedores está na aproximação entre universidades e empresas. Uma relação construída e mantida por meio da troca de experiências, na qual ambas as partes têm muito a colaborar e a ganhar, numa iniciativa que possibilite o compartilhamento de conhecimentos científicos e mercadológicos, o que, certamente, enriquecerá a construção do conhecimento acadêmico e incentivará a revelação de talentos.
Portanto, creio que o caminho que levará as universidades a se tornarem centros geradores de executivos de ponta está na base de teorias de grandes pensadores como Molière, para quem “a escola mais educativa é a da experiência”. Penso que assim seremos um país capaz de instruir para construir.
Até a próxima Carta do Mês!
Denis Mello
Diretor-presidente