“Uma ideia brilhante de hoje já foi uma ideia impraticável no passado”. Esta frase de Bill Gates é válida para todas as áreas do conhecimento humano, mas sempre que me deparo com reflexões semelhantes procuro aproximá-las às minhas experiências profissionais. Busco exemplos da concretização de conceitos elaborados por homens e mulheres cujos pensamentos e teorias revolucionárias foram rechaçados, inicialmente. As lembranças me fizeram voltar ao ano de 1974. A imagem era de um grupo de jovens executivos, trajando terno azul-marinho, gravata, sapato preto e, nas mãos, uma pasta repleta de papéis.
Profissionais formais, expressando tensão e preocupação. Rapidamente, minha mente saltou para 2016, quando homens e mulheres, trajados de forma casual, conversavam descontraídos com um grupo de empresários sobre as tendências e evolução dos negócios em ambiente de crise e turbulência de mercado.
Quarenta anos antes, a simples ideia de incentivar tal mutação parecia inadmissível. Afinal, o modelo da época, importado dos Estados Unidos e da Europa, “rezava” que a boa consultoria devia ater-se ao redesenho de processos e proposição de métodos mais eficientes de gestão das áreas. Era um relacionamento carrancudo, austero e exclusivamente técnico com os clientes.
Na época, os organogramas eram rígidos e quem se colocasse fora da ordem estabelecida, independente das razões, geralmente, era visto como problema. Em razão de uma ação agressiva e impessoal, exigida pela “cartilha” profissional e também pelas empresas, o consultor era uma figura quase que temida pelos funcionários, já que para a maioria ele representava a “vontade do patrão”.
Ao consultor cabia buscar resultados por meio de ajustes e procedimentos técnicos. Diante de tais realidades, o questionamento sobre a ação do consultor fazia parte da minha “cartilha”, dos meus próprios métodos de formação profissional. Para um jovem consultor, era difícil entender como não exaltar os méritos das pessoas, as mesmas que levaram a empresa ao patamar que permitiu a contratação de uma consultoria. Como deixar de lado a experiência daqueles que há tempos construíam a história da organização? Como priorizar as estatísticas e montanhas de papéis em detrimento da avaliação conjunta – consultor, empresários, gestores e funcionários – dos nós internos e externos?
Entretanto, felizmente, como dizia Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser”. Nos últimos anos, o papel do consultor e a visão das empresas evoluíram. Hoje, essa relação é marcada pelo diálogo, parceria, envolvimento e compromisso com resultados que fazem a diferença para a corporação. Cabe ao consultor, em vez de procurar culpados e avaliar números frios, estimular a superação de limites e alargar horizontes, com base em aspectos técnicos, inerentes ao negócio. Assim, quatro décadas depois, a concretização daqueles questionamentos reflete os resultados, que podem ser sintetizados em uma frase: a consultoria “humanizou-se”, evoluiu e tornou-se indispensável para todas as empresas que procuram mudanças e evolução.
Até a próxima Carta do Mês!
Denis Mello
Diretor-presidente